domingo, 20 de maio de 2007

O Regresso do Filho Pródigo


Comecei há pouco dias a ler um livro de Henri Nouwen - "O regresso do filho pródigo". A escrita deste livro tem origem num encontro do autor com um quadro. Um encontro significativo e marcante. Nouwen descreve-o:" Um encontro aparentemente insignificante com um cartaz em que se via em pormenor de O Regresso do Filho Pródigo de Rembrant, foi para mim o início de uma longa aventura espiritual que me levaria a entender melhor a minha vocação e a cobrar novas forças para viver. Os protagonistas desta aventura são: um quadro do século XVII e o seu autor, uma parábola do séc. I e o seu autor, e um homem do séc. XX à procura do sentido da vida."

Vou partilhar alguns trechos do livro, que está a ser uma leitura muito interessante e proveitosa.
«Quanto mais falava sobre O Filho Pródigo, mais o considerava como se fosse a minha própria obra: um quadro que encerra, não só o essencial da história que Deus quer que eu conte, mas também o que eu próprio quero contar a Deus e aos homens e mulheres de Deus. Nele está todo o Evangelho. Nele está toda a minha vida e a dos meus amigos. Este quadro converteu-se numa misteriosa janela através da qual posso pôr um pé no Reino de Deus»
A Parábola do Filho Pródigo está registada na Bíblia, em Lucas 15, 11-32. Jesus conta a história de um pai com dois filhos. O filho mais novo reclama a herança do pai ainda vivo e abandona o lar, partindo para uma «terra longínqua» para ali desperdiçar a sua herança através de uma vida mundana e dissoluta. O que significa o abandono do lar no contexto desta parábola?~
Nouwen diz:« Deixar o lar(...) é muito mais que um simples acontecimento que tenha a ver com um lugar e um momento determinados. É a negação da realidade espiritual de que pertenço a Deus com todo o meu ser, de que Deus me tem a salvo num abraço eterno, de que estou gravado nas palmas das mãos de Deus e coberto pela sua sombra. Deixar o lar significa ignorar a verdade de que Deus me formou em segredo, na terra mais profunda, e me teceu no seio da minha mãe( Salmos 139, 13-15). Deixar o lar significa viver como se não tivesse casa e me visse obrigado a andar de um lado para o outro à procura de alguma.
O lar é o centro do meu ser, o centro onde posso ouvir a voz que diz: "Tu és o meu filho muito amado; em Ti pus todo o meu enlevo" - a mesma voz que deu vida ao primeiro Adão e falou a Jesus, o segundo Adão; a mesma voz que fala a todos os filhos de Deus e os livra de ter de viver num mundo de trevas, fazendo que permaneçam na luz. Eu ouvi essa voz. Falou-me, no passado, e continua ainda agora a falar-me. É a voz do amor que não cessa de chamar, que fala desde a eternidade e que dá vida e amor onde quer que seja escutada. Quando a oiço, sei que estou em casa com Deus e que não preciso de ter medo de nada(...)
A verdadeira voz do amor é uma voz muito suave que me fala dos pontos mais recônditos do meu ser. Não é uma voz ruidosa que se imponha e exija atenção. É a voz do pai quase cego que muito chorou e muitos combates travou. É a voz que só pode ser escutada por aqueles que se deixam tocar(...)
Mas há muitas outras vozes, vozes fortes, vozes cheias de promessas muito sedutoras. Estas vozes dizem: "Sai e mostra o que vales". Pouco depois de escutar a voz que o chamava "meu filho muito amado", Jesus foi conduzido ao deserto para que ouvisse aquelas outras vozes. Disseram- Lhe que provasse que merecia ser amado, que merecia ter êxito, fama e poder. Estas vozes não me são desconhecidas. Estão sempre presentes e sempre atingem o mais íntimo de mim mesmo, o ponto onde me interrogo sobre a minha bondade e duvido do meu valor. Sugerem-me que, por meio de uma série de esforços e de um trabalho muito duro, alcance o direito de ser amado. Querem que me prove a mim mesmo e aos outros, que mereço que me queiram, e impelem-me a que faça todo o possível por ser aceite. Negam que o amor seja um dom completamente gratuito(...)
Observando de novo a pintura do regresso do filho mais novo, vejo agora que há muito mais que um simples gesto compassivo para com um filho caprichoso. O grande acontecimento que diviso é o fim da grande rebelião. É perdoada, assim, a grande rebelião de Adão e de todos os seus descendentes, é restabelecida a bênção original pela qual Adão recebeu a vida eterna.
Agora, parece-me que estas mãos sempre estiveram abertas - inclusivelmente quando não havia ombros sobre os quais as colocar. Deus nunca retirou as suas mãos, nunca negou a sua bênção, jamais deixou de ter em conta o seu filho muito amado.
Mas o Pai não podia obrigá-lo a ficar em casa. Não podia forçar o seu amor. Tinha que o deixar partir em liberdade, sabendo inclusivelmente a dor que tal facto causaria a ambos. Foi precisamente o amor que o impediu de reter o filho a todo o custo. Foi o amor que lhe permitiu deixar o filho encontrar a sua própria vida, mesmo correndo o risco de a perder.»

Henri Nouwen, O Regresso do Filho Pródigo

1 comentário:

Maria João disse...

As vozes desta sociedade são muito fortes. Amor gratuito? Mas ainda há quem consiga? Claro que há. Graças a Deus que ainda há. Quantos missionários partilham a Vida de Jesus e o Seu Amor por este mundo fora. Sejam sacerdotes, religiosos, leigos... Seja lá qual for a sua religião... O Amor é possível. Basta acreditar e arregaçar as mangas. O problema hoje em dia é que é preferível deitar a moedinha do que passar uma noite em claro à cabeceira de um doente. A carreira fala mais alto. Cuidado! Para mim a carreira também já falou mais alto e podem crer que não nos leva a lado nenhum, apenas a uma falsa e efémera sensação de
bem-estar. Só Deus Pai nos pode saciar.

PS: Não pensem que sou uma falhada na carreira e que é por isso que falo assim. Não. Tenho a profissão que escolhi. Simplesmente, descobri Jesus, o Caminho, a Verdade e a Vida e vi que o Seu jugo é mais suave e que Ele só quer que pratiquemos o Amor.

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