domingo, 11 de janeiro de 2009

O DIÁRIO DE ETTY HILLESUM (3ª Parte)



Mais algumas palavras que nos abrem as portas da profunda e riquíssima vivência interior de Etty Hillesum.

«O que importa é escutar o próprio ritmo dentro de ti e tentar viver segundo esse ritmo. Escutar o que emana de ti. Muito daquilo que fazes é simplesmente imitação ou dever imaginário ou falsas ideias acerca do que uma pessoa dever ser.

A única certeza de como viver e o que fazer só pode provir das fontes que brotam lá no fundo de ti. (...)

E agora eu digo muito humilde e grata, e é a sério, embora eu saiba que mais uma vez hei-de rebelar-me e tornar-me irritável:

«Meu Deus, agradeço-te por me teres criado como eu sou. Agradeço-te por às vezes poder estar cheia de vastidão, essa vastidão não é senão o estar repleta de ti. Prometo-te que toda a minha vida há-de ser uma luta para atingir a bela harmonia e também humildade e amor verdadeiro de que me sinto ser capaz nos meus melhores momentos.(...)

Eu uso a oração como um escuro muro protector, na oração retiro-me como se estivesse na cela de um convento e, depois, saio cá para fora, mais «una» e fortalecida e mais completa.

Recolher-me na cela fechada da oração torna-se para mim uma realidade cada vez maior e também uma necessidade. Esta concentação interior ergue muros altos em meu redor, dentro dos quais novamente me reencontro, formo um todo, fora do alcance de todas as dispersões. E consigo imaginar que pode vir uma época em que me encontrarei ajoelhada dias a fio, até finalmente sentir que surgiram muros protectores à minha volta, dentro dos quais não me posso dispersar, nem perder-me, nem arrasar-me.(...)

«Uma pessoa deve arrancar e exterminar muita coisa dentro de si, a fim de criar um espaço amplo e contínuo para os grandes sentimentos e ligações na sua totalidade, sem que eles sejam cruzados por pequenas reacções de um nível mais baixo (...)

Tantos pedacinhos pequenos do próprio eu, que impedem o caminho para áreas mais amplas. Aquele eu restrito, com os seus desejos, somente orientados para a satisfação do altamente limitado eu, há que eliminá-lo e apagá-lo. (...)

Às vezes, é como se dentro de mim existisse uma grande oficina onde se trabalha no duro, se martela, e sei mais lá o quê. E, às vezes, parece-me que sou feita de granito, um pedaço de rocha, e nessa rocha batem constantemente torrentes que a vão furando. Uma gruta de granito que vai sendo cada vez mais escavada e onde são cinzelados contornos e formas. E pode ser que um certo dia as formas fiquem prontas para uso, com contornos nítidos em mim, e que eu só precise reproduzir o que encontro cá dentro.»

Fonte: Diário de Etty Hillesum (1941-1943)

Nota: No Brasil, este livro foi editado com o título: "Uma Vida Interrompida - os Diários de Etty Hillesum" . Podem encontrar o livro aqui

5 comentários:

Inspirações disse...

Lindo. Muito inspirador. Que eu seja transformado a cada instante...

Um grande abraço,

Http://inspiracoesmatinais.blogspot.com

Marcus Henrick disse...

sem Palavras...
gratidão e esse Tesouro veio em hora oportuna !!

Anónimo disse...

" O Senhor ...nos procura , nos visita ,em nossos coraçoes.
obrigado !

Sinais Reais disse...

Uns tem história para contar, outros não. Mas na verdade todos tem algo a dizer.
Mas uma história encontro com o Senhor, poucos podem contar. Devemos buscar ter laços de intimidades com Deus e escrever ou melhorar nossas histórias.

Um grande abraço, irmão.

http://sinaisreais.blogspot.com

Viviana disse...

Olá Paulo, meu bom amigo

Gostei muito de ler e apreciar este belíssimo texto, acerca desta mulher, que nos deixa vislumbrar uma alma muito bela e nobre, e que nos transmite aqui coisas muito profundas nas quais devemos meditar e reflectir.

Não conhecia o livro.

Obrigada.

Que o bom Pai acompanhe e dirija o Paulo em todos os seus caminhos.
Que este ano seja muito abençoado.


Um abraço

viviana

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