quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O INFERNO

«O inferno é a solidão onde o amor já não pode entrar. (...)» (François Varillon)

Deus ama incondicionalmente a todos nós, sem exclusão. Ele quer a salvação de todos, sem excepção.

François Varillon escreveu: «Eu rezo por todos os homens sem excepção, incluindo Judas e todos os que foram monstruosos neste mundo... porque, de facto, eu espero a sua salvação. Se a não esperasse, não rezaria... Mas esta fé e esta esperança implicam precisamente que o amor com que os homens são amados seja um amor tomado a sério. Que é um amor a sério? É um amor que não anula a liberdade humana, mas fundamenta-a. O amor não seria amor se manipulasse a liberdade com o fim de obter a todo o custo a reciprocidade. (...)

O amor já não é amor se disser: vou obrigar-te, finalmente, a que me ames. Não se pode obrigar ninguém a amar. Constrangir a amar não é amar.

Num livro admirável, Jean Lacroix escreveu uma frase que é talvez uma das mais profundas que se escreveram nestes últimos anos:
«Amar é prometer e comprometer-se a nunca empregar, em relação ao ser amado, os meios do poder. Recusar qualquer poder é expor-se à recusa, à incompreensão, à infidelidade».

Em Deus, o amor não é senão amor, portanto, um amor que se proíbe absolutamente de fazer uso do poder. O seu amor é verdadeiramente oferecido, e isso implica que se torne um amor acolhido. Quem poderá garantir que o amor realmente dado, ou oferecido, nunca será um amor livremente recusado? Se se pretender que uma tal garantia existe, deixa de haver amor. Porque não se pode encontrar essa garantia senão no uso do poder. A única garantia possível seria que Deus nos obrigasse a amá-l`O!

Na verdade, a recusa do amor é qualquer coisa particularmente assustadora. Está no limite do pensável. Ou, se preferirem, não se pode pensar senão como limite. Pelo contrário, o que está para além do que se pode pensar, para além de todo o limite, é que Deus possa deixar de amar. Não há mal-amados de Deus. Mas a liberdade do homem - que constitui a sua grandeza - é tal que o amor incondicionalmente oferecido pode ver-se incondicionalmente recusado. (...)

Quando se acredita verdadeiramente na grandeza do homem, acredita-se também que a eventualidade da condenação está inscrita, como recusa incondicional do amor, na própria estrutura da sua liberdade.

Sempre que o Evangelho parece dizer que Deus toma por sua conta a condenação dos homens,, que é Ele quem pronuncia a sentença de condenação (Mt 13, 41; 25, 41), quer dizer que Deus mesmo nada pode, senão sofrer perante uma liberdade que se fecha ao amor.

O castigo não procede de Deus, vem do interior, como aquele que fecha as persianas e nesse mesmo instante fica privado da luz do sol. Isto significa ainda que o acto criador, que é eterno, não pode deixar de incluir esta eventualidade; é o grande risco do acto criador.»

François Varillon, em "Alegria de crer e viver"

2 comentários:

Paulo disse...

Por vezes pergunto-me se Judas realmente terá sido o mau da fita, como nos é dito...é que se o proposito de Cristo era morrer por nós, alguém tinha que O entregar. Terá sido a mão de Deus a fazer com ele fosse a pessoa a fazer isso? Poderá ser uma blasfemia, mas fica aqui a minha interrogação.

Unknown disse...

Se o inferno é a ausência completa do amor, o céu é então um estado de espírito de entrega total em favor da vida plena.
Não me penso melhor do que Judas. Nada me garante que não tenha feito ou que não venha a fazer coisa piores do que ele.
Deus realmente quer a salvação de todos. Mas esse "todos" na verdade é um só. Temos de entender que somos um corpo formado por bilhões. Esse espírito vive desde que nos conhecemos como seres pensantes e estamos numa fase de transição. A nossa salvação está em nos unirmos àquela célula de amor total e com ela regenerar este corpo. Este é o céu ao encontro do qual devemos nos mover. Não há céu sem justiça, não há como caminhar ao encontro dele sem agir de modo a tornar os traidores em fiéis, os famintos em saciados, os presos em libertos, os desamados em amados, as águas poluídas em potáveis...Vinde a mim pois tive fome e me destes de comer... Fomos designados para cuidar, para preservar, para amar... Em bilhões de anos luz não há outro planeta, não há outra vida como a nossa. Devemos parar de nos comportar como alguém que está aqui de passagem. Os que compreendem Jesus sabem que vieram para ficar, sabem que carregam o espírito manso e humilde que há de possuir a terra e renovar todas as coisas. Tenho recebido um chamado forte e irrecusável e quero partilhá-lo com todos e levá-lo a cabo. Trata-se de reviver a sociedade dos primeiros cristãos, segundo Atos 2,44ss e 4,34ss. Para mim é a sociedade capaz de nos conduzir ao objetivo final que é o Reino de Deus, quando então o nosso espírito estará num estado de amor total, no céu.

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